De quanto foi o dano que a pandemia causou na natação brasileira?

JulianRomeroAnálise, Estatística

Dia 10 de março de 2020. A Organização Mundial de Saúde declara a pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2). Dia 20 de março de 2020 o Brasil declara estado de calamidade devido à pandemia. Piscinas fechadas, clubes fechados, atividades esportivas forçadas a encerrar.

Passaram-se 418 dias desde a declaração de calamidade brasileira e os danos à sociedade foram horrorosos. No lado da natação, com diversas soluções de “abre-fecha”, restrições e adaptações, o dano em termos de números foi esse: queda de 68% em eventos e atletas que efetivamente competiram em algum evento e redução de 83% na quantidade de resultados registrados no Ranking Swim It Up!, comparando-se as temporadas 2019 e 2020.

Veja as estatísticas atualizadas clicando aqui.

O gráfico abaixo mostra a quantidade de eventos registrados em nosso ranking por temporada desde 2005. Desconsideraremos 2005, que tem uma quantidade muito desproporcional causada provavelmente por eventos duplicados – ainda em análise. Desde 2016 o Brasil estava assistindo a uma progressão de quantidade de competições realizadas, chegando ao ápice de 593 eventos em 2019. Com a pandemia, restrições não permitiram a realização de campeonatos nacionais regulares e muitos campeonatos estaduais, resultando numa queda de 68% no número de eventos realizado.

O número de atletas que efetivamente participaram de uma competição segue o mesmo número, 68%, caindo de 23.132 para 7.621. Até a data de hoje, 12 de maio, vemos apenas 1.798 atletas brasileiros que conseguiram competir.

Já o número de resultados foi o pior dos 3 itens, com queda de 83%. Número de competições reduzido, combinado com a quantidade de provas limitada dos atletas – que participam também de uma competição com programa de provas reduzido e/ou adaptado – resultou em diferença mais expressiva. O degrau saiu de 296.570 resultados em 2019 para 52.013 em 2020.

Não há dados públicos acerca do número de atletas registrados – que é um número diferente (maior) do que o número de atletas que competiram – mas estima-se uma queda de 80% nos registros em 2021, já que em 2020 a grande maioria dos atletas já estavam registrados em suas Federações Aquáticas Estaduais e na Confederação (CBDA) e até mesmo competiram antes da declaração de calamidade pública no Brasil, dia 20 de março de 2020.

Com reabertura e relaxamentos de medidas restritivas, o natural é esperar que o número de registros, competições, atletas e resultados suba, mas certamente não atingirá o nível numérico alcançado em 2019.

No entanto, em nível técnico, analisando o TOP 10 Brasil das temporadas 2016 até 2021 – apenas piscina longa, notamos que a queda de rendimento de atletas foi de 4,5% no masculino e 15,25% no feminino considerando o número de pontos FINA do melhor do país no ano – sistema de comparação de provas diferentes por pontos criado pela Federação Internacional e usada pela maioria dos países, incluindo o Brasil.

Em 2019, o melhor resultado técnico do Brasil foi de Nicholas dos Santos, com 22.60 no FINA Champions Series, atingindo 956 pontos. Em 2020, Nicholas também manteve-se como o melhor resultado técnico do Brasil mas com 913 pontos, resultado de seus 22.95 no FINA Champions Series. Em 2021, vemos Guilherme Pereira da Costa como o melhor resultado técnico do Brasil até o momento, com 925 pontos obtidos no 3:45.85 nos 400 livre durante a Seletiva Olímpica.

Para as mulheres, em 2020 Aline Rodrigues foi o melhor resultado técnico com 812 pontos nos 200 livre (2:01.07), e em 2021 Lorrane Ferreira é o melhor resultado técnico até agora, com 865 pontos pelos 24.84 nos 50 livre da Seletiva Olímpica. Mas ambos os resultados são piores tecnicamente dos 958 pontos de Etiene Medeiros com 27.36 nos 50 costas em 2019.

Não se engane: esta é uma análise simplista e superficial, mas rápida. Não é intuito desse texto apresentar uma conclusão sobre estes números, mas expor em termos numéricos o que a pandemia afetou especificamente a natação brasileira. Ainda mais que os números estão aliados ao fato que estamos analisando apenas os melhores resultados do Brasil com os TOP10, ignorando a vasta maioria de atletas com, no mínimo, nível estadual e que é a nossa base atual para os futuros atletas de alta performance nos próximos 4 e 8 anos. Mas se for reduzir alguma representação do dano pandêmico na natação em um número, soubemos que é um número grande, mas parece-nos razoável considerá-lo como reparável.

O fato é, claro, que houve uma redução, um dano. A representação numérica é um reflexo aqui simplificada dos acontecimentos que são extremamente complexos e que envolvem centenas de variáveis. Mas se em algum momento próximo você encontrar algum número próximo ou melhor do que os apresentados aqui ou ainda da temporada 2019, é um grande sinal de que finalmente a natação brasileira deu um passo para superar os efeitos da pandemia.